28 de maio de 2006

Amo,amo,amo... meu domingo de Belchior
















No centro da sala diante da mesa
No fundo do prato comida e tristeza
A gente se olha, se toca e se cala
E se desentende no instante em que fala
Cada um guarda mais o seu segredo
...
"Vida, pisa devagar Meu coração cuidado é frágil; Meu coração é como vidro, como um beijo de novela" Meu bem, talvez você possa compreender a minha solidão. O meu som, e a minha fúria e essa pressa de viver. E esse jeito de deixar sempre de lado a certeza. E arriscar tudo de novo com paixão. Andar caminho errado pela simples alegria de ser. Meu bem, vem viver comigo, vem correr perigo

vida colagem

A vida, pequenos fragmentos que se juntam como num mosaico, mas que também se sobrepõem.
Às vezes você está em uma peça, quando vê já caminhou até a outra, de outro formato, redondinha e laranja. Para um tempo lá até que nova peça, de formato ambíguo e cor nebulosa, se aloja em cima daquela, trazendo emoção e agonia. E assim você vai andando, de peça em peça, compondo um desenho da sua vida. um desenho próprio, abstrato como Kandinsky, e unicamente seu.
As outras pessoas todas vão lhe encontrando no caminho, também formando seus desenhos, vezes parecido (nunca igual), vezes opostos. E as cidades são colagens como a nossa vida.
Não me importa que desenho eu terei no final, desde que seja imensamente variado e colorido.

24 de maio de 2006

A vida nos gibis da turma da Mônica


Li isso numa revista:
“Eu queria ser o que era quando queria ser o que sou agora”

Certamente não gostaria de voltar à infância ou à adolescência. Lá a vida se resumia ao restrito mundo do colégio, dos cursos extracurriculares, de televisão e dos gibis. Só este último e a música salvavam. Nem Internet nós tínhamos. E eu sempre ficava querendo algo a mais. Mas uma coisa eu queria ter preservado dessa época inocente. Aquele espírito que só os privilegiados tem, a mistura de curiosidade e desejo pela vida que ainda está pela frente, mas que só a pureza e inocência e a idealização podiam proporcionar. Creio que os milhares de gibis da turma da Mônica devorados desde a tenra infância contribuíram para a minha inocência. Nos gibis não há pessoas inescrupulosas, até os bandidos são inocentes. E os problemas do mundo sempre são vistos com esperança no fim das historinhas – com exceção, às vezes, do Horácio.

A vida antes da primeira desilusão para com a sociedade. O conceito infantil e saboroso de mundo, de futuro. A vida antes de conhecer Marx, e sua teoria sobre o modo de produção capitalista, permeado em cada canto do espaço. Antes de saber o que é política, o que é lucro, e o que significa a podridão, a hipocrisia e todos os lados negativos da humanidade. Aliás, que bonita essa palavra humanidade. A doce ignorância. A propósito, já adultos, muitos preferem viver sobre a ignorância, sobre a ideologia da legitimação dos valores capitalistas. Em outras palavras, ignoram a amarga realidade, achando que as empresas realmente querem o bem social. Pergunto eu, são eles mais felizes pos isso ou eu vou conseguir viver feliz do meu jeito? Esqueça a dualidade da geografia, isso sim é que é dicotomia!
Gostaria de escrever que pretendo levar a vida, o presente nessa corda bamba, e como quando era criança, sempre otimisticamente pensando no futuro, no segundo estágio da vida onde vou poder não apenas sentir e compreender, mas também agir e transformar.

11 de maio de 2006

AVENIDA DROPSIE

Eu preciso, necessito, morrerei do contrário, se não for ver Avenida Dropsie desta vez. É da Sutil Companhia de Teatro, que também produziu A Vida é Cheia de Som e Fúria (2000), peça que por sua vez me influenciou e me influencia até hoje. Elementos: música pop, cidade, juventude anos 90, céu sempre nublado, inocência. Resultado: a melhor representação da nossa juventude classe média urbana.
Já Avenida Dropsie é uma história com a qual provavelmente não vou me identificar tanto, mas e daí? O diretor e o ator protagonista são os mesmos de A vida... Felipe Hirsch e Gulherme Weber, respectivamente. Quero ver a chuva torrencial caindo sobre o prédio de três andares montado no palco, e ver essas pessoas preguiçosas aí embaixo. E se quiser ver também, me avisa.

10 de maio de 2006

Meu hobby é azul, hahahahahah

Eu sou fraca. Ou melhor, eu estou fraca esse ano. Porque às vezes chega uma pessoa de alguma forma superior a mim – ou mais ocupada, ou alguém com mestrado em Harvard – e só a sua presença me faz tremer e, como nos quadrinhos, me faz diminuir até virar formiga. Shit. Nunca fui assim, tão pouco segura de si.
A razão disso é que no momento eu sou mesmo muito pequena. Eu sou a Larissa, que faz Geografia na USP, trabalha no CEM-Cebrap, e estuda francês. Sou só obrigações, trabalho e estudo. Toda a minha atividade diária é constituída pela desgraça do labor, esforço em troca de pouca coisa, notas medianas no fim do semestre e um salário básico no final do mês.
Hobbies? Não, não tenho. Não toco nenhum instrumento, não pratico esportes, não gosto de balada, e não uso drogas pesadas. Não faço voluntariado, no máximo reciclo meu próprio lixo. Não tenho cachorro, gato ou periquito. Reduzo a vida, e reduzo assim o lazer, e a felicidade.
Porque comer não é considerado hobby, é?
Hobby (hob·by1)
n 1: an auxiliary activity [syn:
avocation, by-line, sideline, spare-time activity] 2: a child's plaything consisting of an imitation horse mounted on rockers; the child straddles it and pretends to ride [syn: hobbyhorse, rocking horse] 3: small Old World falcon formerly trained and flown at small birds 4: an activity or interest pursued outside one's regular occupation and engaged in primarily for pleasure.

8 de maio de 2006

Nuvens no meu baú















:: da exposição Fluxus, no Museu Oscar Niemeyer Posted by Picasa

Vento quente noite fria

Especial foi assistir meu primeiro show dos Los Hermanos. Demorou, mas eu assisti. Também a primeira ocasião de ver um show em outra cidade. Porque dá toda uma emoção a mais, sabe [não contemos o show da Xuxa em Itatiaia, rj, aos 5 anos de idade]. Não saber direito onde se está, sair de um tubo de aço e cair ali naquele bairro diferente, naquela casa de show esquisita, mas simpática.
Uma cidade tão fria que deveria até nevar. Em outro canto da cidade Daniela Mercury deveria cantar “ a cor dessa cidade sou eeeeeu, o canto dessa cidade é meu”. Pfff, mas o show dela foi cancelado, e foi a banda carioca que trouxe um vento quente pra dentro daquele quadrado cheio de gente. Gostei, pulei muito e cantei muito. E o povo, surpreendentemente, não cheirava mal depois do show. O que será? Ninguém explica...Curitiba foi muito divertido. Valeu por tudo, tristeza só foi não ter encontrado pinhão! Há-há-há! Uma semana depois iria começar o festival do bendito. Mas tudo bem, encontro outra ocasião para me encher deles.

2 de maio de 2006

O essencial é invisível aos olhos

Ele é meigo, puro, e diz coisas como “As estrelas são todas iluminadas... Não será para que cada um possa um dia encontrar a sua?” Usa cachecol e tem os cabelos de ouro (les cheveux d’or). Todo dia me sento e conheço um pouco mais de sua linda história. E posso dizer que isso tem sido uma das coisas mais felizes dos últimos dias. Leio bem devagar, e insisto em ler em francês (na língua original fica bem mais bonito e interessante). Quando não entendo uma palavra, pego o livro em português, e vejo o que é aquela palavra. Dá um pouco de dor de cabeça no final, mas vale a pena.
Livro perfeito, genial. É para as crianças que o autor dedica o livro, pois ele não acredita mais nos adultos (les grands personnes). Mas no fim acho que os adultos que gostam mais, desse pequeno príncipe tão especial.
Sim, sei que não descobri a América, que o livro na verdade é um dos mais famosos do mundo, e me sinto um tanto atrasada de percebê-lo só com 22 anos. Mas quando o li ainda criança, ainda não entendia a beleza, a melancolia, escondidas nas entrelinhas. O Pequeno Príncipe era apenas aquele garotinho que morava num planetinha com vulcõezinhos e uma flor vermelha. E que pegava carona na cauda de um cometa, naquele desenho animado. Mas hoje, que sou uma “pessoa grande”, ele é um pequeno e amável mistério. E a Terra e os homens, são muito mais complexos.
E a figura do Saint-Exupéry é incrível também. Só de saber que ele escreveu esse livro no meio da Segunda Guerra Mundial, onde foi piloto, e um ano depois morreu numa missão, faz dele um homem especial.
Aqui, um capítulo do começo do livro, que me faz pensar nele toda vez que vejo um pôr-do-sol:

Chapitre VI
Ah! petit prince, j'ai compris, peu à peu, ainsi, ta petite vie mélancolique. Tu n'avais eu longtemps pour ta distraction que la douceur des couchers du soleil. J'ai appris ce détail nouveau, le quatrième jour au matin, quand tu m'as dit:
-J'aime bien les couchers de soleil. Allons voir un coucher de soleil…
-Mais il faut attendre…
-Attendre quoi?
-Attendre que le soleil se couche.
Tu as eu l'air très surpris d'abord, et puis tu as ri de toi-même. Et tu m'as dit:
-Je me crois toujours chez moi!
En effet. Quand il est midi aux Etats-Unis, le soleil, tout le monde sait, se couche sur la France. Il suffirait de pouvoir aller en France en une minute pour assister au coucher de soleil. Malheureusement la France est bien trop éloignée. Mais, sur ta si petite planète, il te suffirait de tirer ta chaise de quelques pas. Et tu regardais le crépuscule chaque fois que tu le désirais…
-Un jour, j'ai vu le soleil se coucher quarrante-trois fois!
Et un peu plus tard tu ajoutais:
-Tu sais… quand on est tellement triste on aime les couchers de soleil…
-Le jour des quarante-trois fois tu étais donc tellement triste? Mais le petit prince ne répontit pas.

A tradução:

Capítulo VI
Assim eu comecei a compreender, pouco a pouco, meu pequeno principezinho, a tua vidinha melancólica. Muito tempo não tiveste outra distração que a doçura do pôr-do-sol. Aprendi esse novo detalhe quando me disseste, na manhã do quarto dia:
- Gosto muito de pôr-do-sol. Vamos ver um...
- Mas é preciso esperar...
- Esperar o quê?
- Que o sol se ponha.
Tu fizeste um ar de surpresa, e, logo depois, riste de ti mesmo. Disseste-me:
- Eu imagino sempre estar em casa!
De fato. Quando é meio dia nos Estados Unidos, o sol, todo mundo sabe, está se deitando na França. Bastaria ir à França num minuto para assistir ao pôr-do-sol. Infelizmente, a França é longe demais. Mas no teu pequeno planeta, bastava apenas recuar um pouco a cadeira. E contemplavas o crepúsculo todas as vezes que desejavas...
- Um dia eu vi o sol se pôr quarenta e três vezes!
E um pouco mais tarde acrescentaste:
- Quando a gente está triste demais, gosta do pôr-do-sol...
- Estavas tão triste assim no dia dos quarenta e três?
Mas o principezinho não respondeu.