10 de janeiro de 2012

Parte 3 - Montevideo

Se você vai para o Uruguai, recomendo que não deixe para conhecer o centro histórico no feriado de 6 de janeiro, como nós fizemos. Seis de Janeiro é o dia de reis, como no Brasil, mas lá no Uruguai é um feriado importante. É nesse dia que as crianças ganham os presentes, e não no Natal. Por isso, metade das coisas que queria ver no centro estava fechada. O Café Brasilero, uma loja de decoração, a prefeitura (onde tem um mirante panorâmico), tudo fechado...

(Triste por não ter conhecido o mirante panorâmico da prefeitura)

Mas deu para conhecer alguns pontos turísticos, como o Mercado do Porto, o Teatro Solis, a peatonal (calçadão) Sarandí, o Palácio Salvo, e pudemos ver a cidade do alto no hotel Radisson, que fica na Plaza Independencia, e tem um restaurante no último andar. É super chique, mas subimos lá e tomamos apenas uma cerveza Patrícia, e os garçons nem olharam feio para a gente. Lá no restaurante do hotel, tirei essa foto do Teatro Solis:


Depois da visita ao teatro, fomos almoçar um Chivito no Don Peperone,na Peatonal Sarandi 650. Lá, consegui uma foto de uma cena típica, um cara saindo do restaurante, e já tomando um mate:


Foi lá também que os garçons cantarolavam "ai se eu te pego".

Confesso que ver a cidade num feriado não me empolgou muito, e foi uma infeliz coincidência da viagem. Além disso, o feriado caiu numa quinta-feira, e provavelmente muitos restaurantes emendaram. Outros pareciam estar fechados para a temporada, ou sabe se lá até quando. Não conseguimos ver aberto o La Pulpería, o Terracota, o Café Brasilero, nem o La Vaca Parilla. Outro lugar que estava fechado é o Estádio Centenário. Mas conhecemos outros restaurantes ótimos, como o La Otra (melhor carne que comi no Uruguai), e o La Perdiz, que estavam abertos.

(garçom amigo no restaurante La Otra, em Pocitos)

No segundo dia pegamos um ônibus perto do hotel para conhecer o Jardim Botânico, no bairro El Prado. O bairro ficava na outra ponta da cidade, e passamos por vários pontos turísticos da cidade. Muita coisa foi vista apenas do ônibus, já que paramos apenas no Prado mesmo.

A avenida 19 de abril, onde fica a entrada do jardim botânico, deve ser a mais arborizada de Montevideo, e lembra as ruas de Colonia de Sacramento.

(Avenida 19 de abril)

Os casais de Montevideo - O Uruguai é um país de velhos. O tradicional bairro de Pocitos é inteiramente frequentada por idosos, e como dizia o meu livro de espanhol do Hispania, os idosos podem passear sozinhos, e mostram que tem um lugar na sociedade. Vimos muitos casais de aposentados sentados em suas cadeiras de praia, tomando um mate e curtindo a tarde. E o Café Amaretto estava lotado de velhinhas conversando em grupos, acho que éramos os únicos jovens frequentando o local às 6 da tarde de um sábado.






Não só os velhos, mas todos parecem frequentar as ramblas, as praças e os parques da cidade.


...

Fim - Só resta dizer que nos deu vontade de morar no Uruguai e viver uma vida menos privada de liberdade. As palavras não explicam a sensação de cidadania e respeito pela vida humana que senti ao estar lá. Só ali percebemos o quão desconfiados nos tornamos, o quão descrente ficamos, a ponto de se surpreender com cada ato de respeito que presenciávamos, atos cotidianos e que não nos deveriam surpreender mas apenas passar batido.

Um exemplo último - Estava eu no ponto turístico mor da Ciudad Vieja, o Mercado del Puerto. Avistei na vitrine de uma loja de souvenirs uma Mafalda muito fofa, e pedi para o Fábio tirar uma foto dela. Aí o dono da loja percebeu e foi tirar a Mafalda da vitrine. Pensamos que ele logo ia dizer: "não é permitido tirar fotos". Mas ele veio e nos disse: "pode pegar para tirar a foto! Sabe? É um cofrinho!", virando a boneca e mostrando o buraco para por moedas... No fim não compramos nada, mas o dono da loja não parecia querer nada em troca, apenas nos fazer mais felizes.




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Parte 2 - Sobre o litoral uruguaio

O litoral foi talvez a parte mais legal da viagem. Alugamos um carro em Carrasco, e fomos "rumbo al Este". Vimos:

1. Piriápolis

Uma cidade litorânea bem próxima de Montevideo, e talvez por isso a praia mais frequentada por uruguaios e argentinos. Estava bem lotada, já que fomos no começo de janeiro.
Vimos o Hotel Argentino, um hotel antigo e que aparece no filme Whisky (2009).
Almoçamos um Angus no Mc Donalds. Notei que a carne do hamburguer de lá é muito mais saborosa, e que a batata é muito melhor que a nossa.
Me diverti quando o Fábio foi ao balcão pedir o molho para a salada e ao invés de voltar um um sachê de molho, ele voltou um uma caixa de madeira com azeite, balsâmico e sal! rsrs.



2. Punta Ballena


Queria muito conhecer a Casapueblo, que ouvi falar nas aulas de espanhol e desde então tinha uma certa fixação por ela. Uma grande casa de arquitetura orgânica, idealizada por Carlos Paéz Villaró, e construída aos poucos com ajuda de diversos colaboradores anônimos, pescadores e amigos de Villaró. Uma casa cheia de signicados, e cheia de cantos, cada um com o seu nome e características distintas. Parte da casa é um hotel de luxo, e outra parte é o museu do seu idealizador. Só visitamos o museu. Me perdi pelas suas salas, corredores, alguns bem estreitos, me surpreendi com o volume de obras que esse cara consegue produzir, ainda hoje. Fiquei em alfa quando resovi descer uma encosta para vê-la de longe, sobretudo ficar longe dos turistas, que eram muitos.

3. Punta del Este


Passamos rápidamente, pois estava cheia demais, e não é a nossa praia, definitivamente. Punta é uma cidade que em nada lembra o Uruguai, se assemelha mais a Miami, ou a um lugar fantasioso criado para turistas endinheirados, em busca de status. Isso tudo não nos encantou, portanto deixamos para quem se encanta com tudo isso.
A escultura dos dedos estava disputadíssima, cada dedo ocupado por uma família tirando fotos, e por isso as nossas fotos não ficaram grande coisa.

4. La Paloma

Uma cidadezinha de litoral bastante acidentado, e rústico. Passamos a noite num hostel ali, e foi tudo ótimo. À noite, o centrinho estava super movimentado, e centenas de crianças ocupavam uma praça, onde se apresentava um teatrinho de fantoches. As crianças riam alto e gritavam de entusiasmo, e uns menores saíam chorando, com medo do fantasma-fantoche. Em frente ao supermercado, outra apresentação começava a ser montada, para crianças um pouco maiores. E na frente do hostel vimos uma feira de artesanato. Ao longo da avenida principal, vários restaurantes, bares e... livrarias! Tudo bem organizado, e aberto para quem quisesse ver.

Outra ótima surpresa em La Paloma foi o Restaurante 5 Sentidos, na Ruta 10 entre La Paloma e La Pedrera, no qual comemos na volta da viagem para Cabo Polonio. Já eram 3 da tarde e não sabíamos onde comer. O Fábio dirigindo e eu pescando do lado, e eis que ele avistou um pequeno restaurante de beira de estrada. Era uma casinha de madeira, de construção recente, com meia dúzia de mesas muito bem decoradas.


Fomos recebidos por uma garota da minha idade, muito bonita e super simpática. Ela apresentou o cardápio para a gente, e falava de cada prato com muito entusiasmo, e dava para perceber que ela tinha paixão por comida. A entrada foi paezinhos com manteiga de ervas e temperos e estava espetacular. Eu comi uma massa caseira, sorrentinos de caprese com molho de cogumelos. E o Fábio comeu um assado de verduras e raízes, mais uma salada de frango. A sobremesa foi uma taça de frutas frescas de todos os tipos, com uma bola de sorvete por cima. Tava tudo impecável, tanto visualmente quanto pelo sabor.


Por fim, fomos admirar a vitrine de tortas típicas uruguaias e sobremesas, e a menina nos explicou em detalhes cada uma das tortas, simplesmente pelo prazer de falar sobre a comida, visto que já estávamos fechando a conta. Até conhecemos a cozinheira, a mãe da garota que nos serviu, ainda mais bonita que a filha. As duas cozinhavam tudo sozinhas, e tinham um sorriso largo no rosto, indicando que amavam o que faziam. Minha esperança ia aumentando, a cada passo dessa viagem.

5. Cabo Polonio

Fomos a Cabo Polonio sabendo unicamente que lá poderíamos chegar muito perto de leões marinhos. Foi uma indicação do Rafael.

Chegamos de carro até a entrada da área reservada, a partir do qual não se entra mais carros. Todos pagam um ingresso de 85 pesos uruguaios (R$ 8,50) e esperam por uma caminhonete que percorre uns 3 km, até a praia. O transporte é bem diferente, e me lembrou ao de um barco.


Na praia, há uma vila com casas bem rústicas, meio hippies, lojinhas, restaurantes, e até um hostel. Placas indicavam os pontos turísticos, e uma mulher nos disse que o farol e os leões marinhos ficavam a apenas 600m de onde estávamos. E assim foi. Não há instruções sobre como se comportar diante dos bichos, e é possível chegar quão perto você quiser dos leões marinhos. Eles ficam ali nas pedras e não há cerca entre os turistas e os animais. A minha conclusão sobre isso é que o parque acredita que todo mundo é consciente dos seus atos, e sabe até onde chegar.

Chegamos a até uns 2,5 metros de distância dos leões marinhos e eles não se intimidaram muito. Dormem ao sol, mudam um pouco de posição e dormem novamente. Depois, vão se banhar e voltam para o sol. Empinam o fucinho para o sol, e quando um turista chega perto demais, reclamam um pouco.



Por fim... - Em todo lugar, vimos casas sem muros, com amplo recuo de gramado, e até ciclovias entre a rodovia e as casas. A violência ainda não intimidou os moradores a construir muros altos e cercas elétricas, isolando o espaço público de suas propriedades, e essa diferença me encanta, me dá esperança e coragem de continuar acreditando em um mundo razoavelmente bom. E assim se pode admirar a arquitetura do lugar, e das janelas das casas é possível ver o mar, a vida passando, logo em frente.


Parte 3 e final sobre Montevideo, em seguida.

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Parte 1 - Uruguai


Foi em um Globo Repórter que eu ouvi falar sobre o Uruguai. Um país de emigrantes, pois grande parte de população de faixa etária ativa preferiu deixar o país em busca de oportunidades, principalmente na Europa, mas também na Argentina e no Brasil. Eu estava no colegial. Isso me marcou, pois na adolescência um dos meus sonhos era sair do país, e um país inteiro desejava a mesma coisa que eu. Me identifiquei desde então.

Depois disso, um amigo me contou sobre o Uruguai, suas cervejas, o centro histórico com cara de Europa, os cidadãos uruguaios e sua cordialidade.

Em 2009, houve o Encontro de Geógrafos da América Latina, em Montevideo. Tinha vontade de ir, muitos amigos estavam indo, mas como estava trabalhando a menos de um ano, não pude tirar férias... Fiquei na vontade.

Depois disso, veio o curso de espanhol, que fiz no Hispania, uma escola de idioma espanhol voltada para o ensino da língua e da cultura latino-americana. Nada de falar da Espanha, tudo era focado nos países da América Latina. Ali, aprendi mais sobre o Uruguai. Um país humano, um país de velhos, graças a emigração em massa ocorrida desde 1975, taxas de alfabetização chegando a 100%, acesso ao ensino superior gratuito para todos, baixos índices de violência, um país onde os idosos podem andar na rua sem medo, etc. Um país ideal, diríamos, apesar de ser um país em crise. A vontade de ir para o Uruguai ia aumentando. Mas depois, a vida foi passando e me esqueci um pouco disso tudo.

2012 - Acabei de voltar de uma estadia de 5 dias passando por: Montevideo, Piriápolis, Punta del Este, La Paloma e Cabo Polonio.
A parte litorânea foi feita de carro e a cidade foi visitada a pé, de ônibus e taxi.
O país me surpreendeu, apesar de não ser nada diferente das coisas que eu ouvi falar.

Sobre as pessoas - Os uruguaios são muito mais muito educados, com todos os que conversei eu fui bem tratada, todos parecem querer te ajudar, indicar um caminho, tirar uma foto, avisar por onde não passar, etc. São simpáticos sem ser falsos, são sinceros sem ser grossos. Querem de ajudar, sem nada em troca. E, sobretudo, não querem tirar vantagem.

Ali em Montevideo, o pânico ainda não se instaurou. As pessoas conversam na porta de casa às 23 horas da noite, sem medo de assalto. Os casais, sobretudo de aposentados, se sentam em cadeiras de praia em variados locais públicos, a rambla, o parque, a praça, etc. Tomam um mate e sentem o sol e o vento, e veem a tarde passar.

A passagem pelo Uruguai foi rápida, mas importante. Importante para dar uma renovada na esperança. Esperança na humanidade. Me fez pensar que a humanidade ainda tem jeito. Sentimento que estava morrendo em mim aos poucos.

A parte 2 vem em seguida, falando com detalhes dos lugares que passamos.