20 de julho de 2012

Gen Pés Descalços


Não acredito que demorei tanto tempo para conhecer o mangá Gen Pés Descalços. Já tinha visto as capas dos mangás, em exposição no Atrium do Sesc Vila Mariana, quando era adolescente. Mas foi apenas esse ano que eu abri a primeira página e devorei, da direita para a esquerda, como a publicação didaticamente ensina para quem tenta começar pela esquerda.
A história do menino que vive em Hiroshima nos tempos da guerra, e que presencia a explosão da bomba atômica é um retrato fiel do drama vivido pela sociedade japonesa, não dá nenhuma margem à fantasia, acredito. Está tudo ali, a hipocrisia do discurso da guerra, a lavagem cerebral que o governo faz para que os cidadãos aceitem fazer parte de tudo, entregando ao imperador tudo o que possuem, inclusive os seus próprios corpos e almas. Uma coisa é aprender sobre isso nos livros de história do colégio, outra coisa é acompanhar o dia-a-dia de pessoas comuns que viveram naquele período. 
A felicidade que surge em Shinji, irmãozinho de Gen, ao encontrar pequenos grãos de arroz, ou ao morder um pedaço de batata crua e com casca é algo que não vou esquecer, tamanha a tristeza deste ato. As falsas acusações que recebem Gen, seus irmãos e seus pais na escola, no bairro, na sociedade em geral, apenas por que pensam diferente, revelam uma característica negativa da sociedade japonesa e o gosto pela humilhação em público. 
Diante de tanta tristeza, Gen também viveu momentos felizes, conheceu pessoas incríveis, e causou um impacto positivo na vida delas, e vice-versa. 
A grande lição que eu tirei dessa história é que não há utopia, e as coisas nunca serão apenas flores. Não podemos nos angustiar com cada decepção que vivemos, com cada situação desagradável, ou com cada pessoa que nos decepciona, pois isso sempre irá existir, e coexistir com um outro tanto de coisas boas, que às vezes são tão boas que compensam por todas as ruins. Ruim, bom, terrível, maravilhoso... tá tudo ali, tudo junto e misturado. Simples assim.



Outra lição é a importância de uma boa base familiar. A família de Gen briga, os irmãos brigam, o pai bate, mas no fim todos se amam, e estão sempre unidos, em defesa um do outro. O pai consegue passar ideias de certo e errado aos filhos, e Gen compreende, e sobrevive, como o grão de trigo pisoteado.