Domingo político
Trabalhei nessas eleições, tanto como primeira secretária, como nas pesquisas de intenção de voto. E ambos me obrigaram a ficar mais próxima de todo o debate político. Mesmo assim, até o último momento não sabia em quem votar. No sábado, como última tentativa, li minunciosamente cada proposta de cada candidato, várias vezes. Mas domingo continuava na indecisão. Gosto e desgosto dos dois (até então) candidados, e também cogitei votar nulo. Indecisão total! A confusão permaneceu até o fim, e acabei votando na ex-prefeita, porém, um pouco frustrada.
A pergunta é: como que uma pessoa formada em psicologia – lê-se, Marta – diz-se de repente tão interessada em governar uma cidade? Se ela tivesse interesse e vocação para solucionar os problemas da cidade, não escolheria um curso superior mais relacionado a isso, como geografia, ciências sociais, arquitetura e urbanismo, economia ou administração pública? Um curso que de fato discutisse a cidade? Questiono também um cara formado em engenharia civil (Kassab). Tem relação com a cidade, sim, mas não é só com obras que se constrói e se mantém uma grande cidade. Aliás, creio que fazer obras, pontes, novas avenidas, achando que isso basta, é o jeito mais antiquado de governar cidades. Maluf perdeu, e é prova disso.
Experiências de governos municipais recentes mostram que o prefeito tem que governar pensando no povo, mas não só em suprir as demandas materiais, isto é, infra-estrutura de saúde, transporte, educação, etc. Precisa-se partir da idéia de que a população não é apenas uma massa que age automaticamente, mas seres humanos que reagem a cada mudança que ocorre em suas rotinas. Em várias cidades, como Bogotá, Porto Alegre, e, dizem, até mesmo Brasília, a prefeitura conseguiu promover a melhoria da cidadania, através de políticas criativas e de baixo custo. Conseguiu-se estabelecer respeito entre os homens em ambientes ditos caóticos, como o trânsito. Além disso, incentivaram a população a se interessar mais por política, expressando suas vontades, individualmente, através do orçamento participativo, em Porto Alegre, ou com a prática de cidadania no trânsito, em Bogotá.
Em São Paulo, é difícil apontar uma medida assim, que tenha mexido com o individual das pessoas. Tratam-nos como uma horda de gente, dividida em classes sociais, mas cada classe vista de forma muito genérica. É claro que é difícil governar para muitos, e estamos falando na maior cidade do Brasil, mas um pouco mais de criatividade e menos políticas impositivas ajudariam a melhorar essa cidade, e a auto-estima do povo. Kassab ganhou a eleição e está feliz da vida, mas não percebe que para muitos insatisfeitos ele era a única opção. Muitos votaram nele não porque o gostam, mas para que Marta não fosse eleita, na típica saída de "votar no menos pior".
E que venha o Kassab, novamente. E desejo à ele um bom governo, apesar de não ter recebido meu voto. Fico feliz com a idéia dos 100 parques, que ele prometeu fazer. Apesar de que nenhum destes será próximo à minha casa. Mas vamos ver se ele segue adiante com pelo menos essa promessa, que é a que mais me agrada.
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