11 de abril de 2009

La oficina

Minha memória falha diariamente, quando tento lembrar de coisas pontuais, como uma senha de banco, ou o nome da rua onde tenho que ir, mas alguns diálogos aparentemente banais podem perdurar na minha mente por anos e anos. Por exemplo, lembro de uma conversa que tive com a Priscila e outras colegas de faculdade logo no começo do curso de arquitetura. Nós conversávamos sobre ambiente de trabalho. A Priscila disse que gostava da idéia de trabalhar enfurnada dentro de um escritório. Já eu falei que não, que odiava a idéia de passar o dia inteiro dentro de um cubículo. Queria trabalhar viajando, ou na rua, fazendo muitas coisas para não cair na rotina. Essa era a minha cabeça em 2002, cabeça de uma adolescente que nunca tinha trabalhado, além de uma curta experiência numa cadeia de fast-food.

Até hoje, tive 5 empregos fixos e 3 temporários. Levando em conta apenas os fixos, 4 foram empregos-de-escritório. Desses que você entra de manhã e só sai no fim do turno. Desses que você vê o sol apenas no caminho do trabalho e da janela do escritório. Mas, longe do que eu imaginava, eu curto trabalhar em escritório. Ver as mesmas pessoas todos os dias, passar pela fase inicial de estranhamento, achar que nunca irá se acostumar com pessoas tão esquisitas, achar os antigos colegas de trabalho mais legais, e depois de algumas semanas, acostumar-se com os novos colegas. No fim das contas, eu gosto de ter uma rotina de trabalho. Gosto de sair de casa de manhã, enfrentar o trânsito, ver a cidade, pegar o jornal grátis distribuído no semáforo, tomar café da manhã na padaria de vez em quando, escolher um restaurante na hora do almoço. Tudo isso é tão banal, mas tão necessário. O homem não é uma ilha. É preciso sair, ver gente. É preciso aprender a conviver com pessoas, até com as pessoas mais difíceis. Com isso aprendi que quase todo mundo, até os mais insuportáveis, tem um lado bom para mostrar.

Acho que odiaria trabalhar de casa. Acordar, ligar o computador, passar o dia inteiro na companhia de mim mesma. Isso sim seria uma rotina angustiante.
Por um lado, é horrível ter que passar o crachá em cada porta por onde você passa, é horrível ser um número no meio de tantos outros. Mas por outro, não nasci para ter a liberdade de controlar o meu próprio horário. Se tivesse a liberdade de trabalhar em casa, acho que não renderia muito. Me perderia entre a cozinha, a TV na sala e os outros tantos atrativos que apenas o lar oferece.

Meu atual emprego é uma parte em escritório e uma parte rodando alguma cidade de carro. Eu gosto das duas coisas. É bom estar em uma nova cidade, ver outra paisagem, respirar novos ares. Mas ficar no carro o dia inteiro cansa. E é bom voltar ao escritório e sentar o dia inteiro na frente do computador, entretida com o trabalho, com um café na mão e um mouse no outro.

Obs: Falando em crachás, eu consegui guardar todos os que eu já tive nesses empregos. Dá uma coleção bem interessante...
Obs2: Algumas das minhas melhores lembranças de colegas de trabalho são nos almoços com todo mundo. A hora do almoço é um importante momento de sociabilidade, oh yes. Sem falar na pausa para o café-conversa-furada.