Diário de um playboy no Japão
Neste feriado que passou eu fui à uma livraria/revistaria e como sempre faço, folheei algumas revistas, já que elas são caras e eu só compro se realmente são imprescindíveis na minha vida. E já que a oferta de revistas da loja não era das melhores, e havia muita gente disputando os melhores espaços, fiquei numa esquina folheando a Superinteressante. E foi mesmo interessante encontrar uma matéria sobre arubaito, ou seja, o trabalho temporário no Japão, uma experiência que eu vivi, ao passar meus 3 meses de férias da faculdade numa fábrica japonesa.
Comecei a ler com certa empolgação, já que era uma coisa com a qual eu me identificava. Mas fiquei horrorizada e revoltada com a ignorância do repórter. Acho que nunca li nada mais preconceituoso, esnobe e parcial em uma revista (leia parte da reportagem no site), que era para ser de curiosidades. Um playboyzinho com cara de bundinha de nenê que foi cheio de julgamento, trabalhar numa fábrica como operário, possivelmente apenas pra fazer esta merda de reportagem, pois podia muito bem continuar sua vida mansa em São Paulo. Tem-se a impressão de que ele só fez toda a viagem por obrigação, de má-vontade, conhecendo pessoas somente para chamá-las de ignorantes, irracionais no seu texto com ar de superior.
“Num canto, dois amigos mestiços sentados no chão, de bonés encardidos, descalços, coçando as dobras entre dedos dos pés como dois camponeses sob uma sombra de árvore após o almoço. No fumódromo, uma adolescente mestiça muito alta e de seios minúsculos, com alguns quilos de pele flácida sobrando da calça e da baby-look justíssimas, conversava com seus amigos hip-hop. O lugar era a sala de embarque do aeroporto internacional de Narita, próximo de Tóquio, mas uma única língua se ouvia: português. Um português arrastado do interior de São Paulo, Paraná ou Mato Grosso do Sul.”
OBS 1:Então quem coça entre os dedos do pé só pode ser camponês? E camponês é termo que se empregue ao se falar de população rural do Brasil? Parece que a intenção do super-cult repórter é passar nojo e desprezo pelas pessoas.
“Outro dia, a caminho da fábrica, conheci a ex-bancária Iraci. Ninguém aqui conta nada de bom. Nem os parentes, nem as revistas brasileiras! Só falam do que há de ruim! O discurso de Iraci não terminou por aí.
Eu amo o meu país, mas ou é o Brasil ou é o dinheiro. Não somos nós que desistimos do nosso país, mas, sim, o nosso país que nos faz abandoná-lo.
Não seria a última vez que ouviria frases-bordão. Outra era para ganhar no Brasil o mesmo que aqui, teria que estudar demais. Quer dizer, morar num lugar para reclamar do frio, da saudade, do preconceito e da dureza do trabalho é mais fácil que estudar e empreender no Brasil?”
OBS 2:Incrível como ele simplifica tudo. Por acaso todo brasileiro é empreendedor? E sem dinheiro, vai empreender o que?
“A hora e meia do primeiro turno matutino flui como um aquecimento. Passa o primeiro intervalo e, diante da oferta do almoço, o trabalho não parece tão difícil. Mas nada nos espera senão as frituras do bandejão aqui não tem sushi nem sashimi. Prato A, prato B, curry ou udon.”
OBS 3:Que eu saiba curry e udon não são frituras, o primeiro é um cozido de carne e legumes e o segundo é uma sopa de macarrão.
“Na linha de montagem, Henry Ford divorciou a atividade manual da intelectual. O operário não precisa pensar, só repetir operações predeterminadas. Para o arubaito, passar 6 dias por semana sem usar a cabeça é uma angústia insustentável. Repete-se a palavra motainai desperdício. Que livro poderia ler enquanto encaixo o 1800º processador? Sobre o quê poderia conversar enquanto sou obrigado a ouvir mais um causo de Votuporanga?”
OBS 4:Se ele fizesse amizade com os colegas de trabalho, e conversasse de igual pra igual ao invés de bancar o superior, quem sabe o tempo não passasse mais rápido e de forma mais agradável? Mas a vida e os amigos dele devem ser muito mais interessantes do que a vida na fábrica. Ao invés de ficar pensando nos livros que ele poderá ler (afinal, ele só ficou 2 meses lá, e não uma vida inteira), porque não aproveitar um momento único na vida, onde se tem o cérebro livre de informações inúteis do dia-a-dia, inteiramente disponível, em férias, e renovar planos e idéias?
“Arubaitos e dekasseguis fazem o mesmo trabalho, mas se misturar já é outra história. Nas pausas, é cada um em sua mesa. Entre si, os estudantes conversam sobre suas viagens pelo Japão e pelo mundo. Já os dekasseguis têm os pés bem no chão falam fofocas do trabalho, sobre compras e terrenos no Brasil. Um é visto como o filhinho de papai que nunca precisou carregar peso, o outro, como o roceiro simplório.”
OBS 5:Visto por quem?? Meu Deus, ele acabou de chamar todos os dekasseguis de roceiros, pela segunda vez!!!!
“E assim passam dois meses. Seis dias à espera de um domingo em que poderia dormir até tarde e sair com outros arubaitos para comer um McChicken e checar meus e-mails numa loja de mangá. Seis dias de fofocas sobre um ex-colega preso pela polícia em Hamamatsu. Seis dias pensando no que estou perdendo, para, no domingo, limpar o apê e, ao ligar para os pais, ter vergonha de dizer que, não, não há novidades. A semana foi exatamente igual à anterior.”
OBS 6:Se ele ficasse o tempo normal, que é 3 meses, acho que as pernas iriam cair do seu corpo, mas como ele não deve precisar de grana, ficou só 2. Uau, que grande sacrifício... Outra coisa, se ele vai para o outro lado do mundo onde tudo é diferente, onde as luzes e a música não cessam, modernidade contrastando com a tradição, quinquilharias de um lado e produtos eletrônicos de última geração de outro, um povo completamente diferente do daqui, e não consegue contar nenhuma novidade para os pais depois de uma semana, tem algo de errado com ele, e essa é a parte que me revoltou. Certas pessoas não vêem o óbvio e eu tenho dó delas, mesmo.
Porque que as pessoas mais críticas e negativas que existem são também as mais nojentas e arrogantes? Porque um filhinho de papai vai passar as férias trabalhando de operário? Só para voltar e escrever uma reportagem “crítica”. Ao tentar analisar tudo de forma consciente, ele escreveu asneiras horrendas, e se isolou de toda a problemática, esquecendo que a sua posição social é que o faz pensar assim.
Só tenho uma coisa a dizer: Patético....
9 Comments:
que horror! Mas tá na cara que o sujeito foi para lá, já se sentindo o máximo, sentindo que não precisava estar ali. Bem vinda ao mundo dos jornalistas sem um pingo de sensibilidade. E isso não falta no mundo jornalístico, pode ter certeza. Enfim, matéria ruim. O cara vai pro outro lado do mundo e consegue produzir uma matéria insignificante...vai entender.
putz, o jornalismo realmente anda numa fase ruim... veja essa:
http://registrodissonante.blogspot.com/2007/10/ns-no-vamos-pagar-nada-o-cocadaboa.html
É aquela coisa... "Tropa de Elite" pode ser capa da Veja ou da Caros Amigos, tudo pode ser torcido até caber no pensamento de alguém.
E esse japa aí tem um pensamento bem pequeno e lamentável. Se ele tivesse tido que trabalhar no Seade, será que ele se suicidaria?
aff meu. que otário.
"Deitei-me. Naquele momento, de Maurício Horta, repórter, tornei-me Maurício Miyauchi, operário."
E??? Paunocu.
Ah.Se eles tivesse pedido pra você escrever sobre arubaito teria saído mil vezes melhor.
Tô muito achando ridículo haha.
Puta loser. Pq meu, tem tanta coisa no Japão e ele vai se preocupar em ficar julgando os trabalhadores. Se fuder!
Tô por fora do assunto Luciano Hulk, a única manchete que vi foi a da Revista Época, mas como eu andei comprando uma outra edição da mesma e achei péssima, por isso nem quis olhar muito essa última. Vale a pena olhar?
Também não vi Tropa de Elite ainda. Vale a pena ver? Não gosto de filme gritado...
O mais legal é que todo mundo já tinha falado do filme, e só depois que já tinha virado rotina, as revistas semanais resolvem polemizar. haha
Caramba, comentar reportagens tá na moda entre os blogs, hein? Mas juro que não copiei ninguém, rs. Aliás, é uma fórmula tosca, mas é o único jeito de mostrar o quão ridículo era.
E eu mandei por e-mail para a Superinteressante, mas sabe-se lá se vai chegar nas mãos lisinhas do repórter, mas pode ser que chegue na do editor.
Não sei, nem cheguei perto da Época, o link mencionava o Luciano Huck mas era mesmo sobre o Radiohead. A Veja é que me dá medo.
Tropa de Elite, se você gosta de filme de ação, vale muito a pena. Se não, vale também, pelo menos pra entrar na polêmica.
Sobre o Superinteressante japa (eu fico até meio assim de usar esse termo no meio da colônia), é só lamento. Se seu e-mail chegar nele, ele vai fazer mais um julgamento, dizer que você é ridícula, e se bobear, publicar uma nota ironizando. Minha opinião é que não dá pra ser educado com esse tipo de gente.
Jornalistas são arrogantes, pedantes e com síndrome de superioridade. Mas a maioria não passa de um bando de leitor de manchetes de jornais e orelhas de livros que adora criticar e se recusa a receber críticas. Adoram denunciar corrupção na política etc, mas muitos não dispensam as festinhas de fim de ano promovidas por empresas e entidades de classe. E ainda se sentem importantes quando são dispensados de passar por uma blitz ao apresentar a carteirinha da Fenaj. Não sei onde fui me meter...
Que cara otário, sinceramente.
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