30 de março de 2006

A falta de esperança que surge dentro de um ônibus

Ontem estava no ônibus, mais uma vez voltando pra casa, às onze e tantas da noite, quando entra um homem, de muletas e senta no banco ao lado do meu. O sujeito logo se demonstra expansivo, e energético, puxando conversa com outros passageiros. Mas cada comentário que ele faz sobre a vida tem uma ponta de amargura, que me faz sentir um pouco de pena.

Eis que ele solta uma frase que me pinica: “Esses estudantes da USP, hoje em dia não sabem nada. Eles não querem estudar, só se divertir, e gastar o dinheiro dos pais”. Sinto que o ônibus inteiro, lotado de estudantes da USP, se vira para o homem, com um olhar de incômodo. Mas não falo nada. Não estou com vontade de discutir. Uma mulher muito paciente tenta conversar com ele, e diz que sim, tem gente que não está interessada, mas que tem gente que estuda muito. Ela, inclusive.

O próprio homem, como depois percebi com a conversa alheia, não estudou muito, e vive de trabalhos automáticos, que não lhe exigem muito conhecimento, mas algo na cabeça dele, desprovida de informações, lhe fazia achar que os estudantes não estudam, e não servem pra nada.

Pode ser utópico, mas eu estudo por diversos motivos, e um deles é pra melhorar a sociedade, para tentar deixá-la mais civilizada e digna para todos. Mas quando eu tomo contato com pessoas tão fechadas a mudanças, eu perco as esperanças. A cultura não chegará na cabeça daqueles que não a desejam. Não acho que seja por falta de oportunidade. Acho que deve ser uma coisa mesmo instintiva. Tem gente que se interessa por cultura, conhecimento, e outras não, preferem viver de prazeres que dêem menos trabalho ao cérebro. (Faz tanto sentido como pensar que algumas pessoas gostam de brócolis, e outras não, como o Bush. Pra quem já viu a vinheta da MTV)

No final, como sempre, a mulher aconselha ao homem a incentivar sua filha a estudar, já que ele mesmo se eximiu de qualquer necessidade de estudo. Ele pensa, “eu não estudei, tenho 39 anos e não me adianta mais estudar, mas digo a minha filha pra ela estudar para ser alguém na vida”.

26 de março de 2006

LIFE IS...

20 de março de 2006

Tchau

Mais um fim de semana passou, a jato. Acordei cedo nos dois dias, lá pelas seis da manhã. Coisa de velhota, mas valeu a pena. Peguei a Bienal no seu último dia, um caos, mesmo chegando lá na hora que abriu as portas. Uma coisa boa de trabalhar numa livraria: ligar pro stand e conseguir credencial pra entrar de graça. Percorri as 9544 avenidas da imensa feira, e acho que valeu a pena. Comprei livros e revistas, alguns com preço de banana, apertei a mão do Bob Esponja, ganhei uma letrinha, comi pastel de shitake, e comi guloseimas, sem chocolate.
Amanhã é o dia do meu último dia no meu primeiro emprego. A partir de amanhã não vou mais ter que ir à Sé todos os dias. Vou sentir falta do burburinho da "cidade". Vou sentir falta até do cheiro de jaca, sendo cortada e empacotada ali, na calçada. E da moça que gritou todos os dias da minha vida: "olha a lupa, olha a lupa, olha a lupa, lupa pra ler o jornal, pra ler a revista, pra ler a bula, olha a lupa, olha a lupa...", sem variar uma palavra, ou vírgula. Quando você descer na estação Sé do metrô, e sair pelo acesso a rua Direita, acredite, você vai notá-la. Vou sentir falta das pessoas da livraria, que aprendi a gostar mais a cada dia. E quem sabe até das músicas da Antena 1, baixinho no rádio. Vou sentir falta de subir no terraço do Edifício Martinelli, e ver o vale do Anhangabaú bem pequeno lá embaixo, onde formigas vão e voltam entre os totens-paçoca. Não foi tão ruim, afinal. E você só percebe no final.
A partir de amanhã vou ter tempo livre. Estágio meio período. Meu humilde sonho sendo realizado. E prometo dar o sangue nos estudos. Agora vai!

13 de março de 2006

Poética revisited. Monday hangover.

A negatividade tomou conta de mim hoje. Não há motivo, um dia tão normal. Nenhuma surpresa, boa ou ruim. Nem um tom de verde a mais. Mas tudo o que eu consegui notar foram as coisas chatas da minha vida. Só consegui pensar nas coisas que mais odeio em mim, nos outros, e no mundo.
Odeio ensinar os outros, principalmente os lerdos (que não “pegam” de primeira, nem de segunda, nem de terceira), e não receber nada em troca. I would make a terrible teacher.
Odeio notícias de corrupção, dessa vez de delegados, polícia inglesa, e pasmem, de diplomatas que querem lucrar até no whiskey. Odeio perceber que há inúmeras pessoas por aí que se acham no direito de se aproveitarem das outras, levando vantagem em tudo. Pode ser um pedinte, um estudante de direito tirando 3 reais de um bixo burro, ou um mané que assim que enfia o pé no vagão do metrô, não dá lugar pros outros atrás entrarem também. A falta de caráter está em todo lugar, principalmente neste país, que às vezes penso ser sem lei.
Odeio que a minha vida vem sendo movida, em uns 30%, por documentos, prazos, notas fiscais, fichas cadastrais, e tudo o que é burocrático.
Odeio sentir sono a ponto de quase dormir movimentando o mouse, e falando, e sentindo formigamento pungente e permanente na quarta vértebra, mesmo estando na melhor postura que posso.
Me sinto como um motorista de ônibus, com 20 anos de carreira nas costas, dirigindo na Castelo Branco, a rodovia mais lisa-retilínea-sem-surpresas do estado.
O pior de tudo é que não tenho motivo pra tanta agonia. Na verdade, minha vida nunca esteve tão certinha, no lugar. Estágio, faculdade, praia, filmes e jantar fora. Somente um dia ruim, arranjo um jeito de ser chata, e reclamona, sempre.
Acho que não agüento uma boa dose de rotina e organização. Prefiro mil vezes o improviso, o nomadismo. Mas de que adianta ser assim, e sofrer a cada dia terrivelmente normal que passa? Preferia mesmo é ser quadrada, e adorar o previsível. Mas, reforçando, é apenas um dia ruim.

8 de março de 2006

Meia-noite, eu e as minhas cagadas

2 empregos e o início das aulas. Resultado: sem tempo pra nada. Resultados piores: ando perdendo o ponto de descer do ônibus, no começo da madrugada, em avenidas desertas e perigosas, e tendo que tomar táxis pra voltar pra casa. Sabe quando você tá quase pegando no sono, feliz de ter conseguido sentar na p. do ônibus, e pensa, ah, já vou acordar daqui a pouco. Pois é, não acordei a tempo. Ódio. Dormi na Paulista, e só acordei na Bandeirantes. Quando der, eu volto a escrever...