Milho Verde
O canto da sereia é deleite, prazer. No entanto, enfeitiça e mata. Os marinheiros correm perigo. Ulisses pega um bloco de cera e a amolece entre os dedos, com ajuda do calor do sol, e com ela tapa os ouvidos dos marinheiros. Ele mesmo pede para ser amarrado ao mastro do navio, para resistir ao lindo canto da sereia. A sua racionalidade o faz sofrer, e o faz privar-se de prazer, para sobreviver ao desafio imposto.
De forma análoga, hoje, ao passar à noite pela rua, de longe avistei um carrinho de milho-verde, com fumaça saindo do caldeirão. Aquela fumaça perfumada por espigas de milho. E assim, instintivamente, eu segurei o ar e tapei o nariz, para não sentir o cheiro e não ficar com vontade. Depois do ato, me assustei comigo mesma. O milho é bom, o cheiro ainda melhor, mas em um dia de semana, cheio de obrigações e chatices, racionalmente eu tapei meu nariz para esse prazer. Ai... que tipo de monstro eu estou virando???