27 de junho de 2007

Milho Verde

O canto da sereia é deleite, prazer. No entanto, enfeitiça e mata. Os marinheiros correm perigo. Ulisses pega um bloco de cera e a amolece entre os dedos, com ajuda do calor do sol, e com ela tapa os ouvidos dos marinheiros. Ele mesmo pede para ser amarrado ao mastro do navio, para resistir ao lindo canto da sereia. A sua racionalidade o faz sofrer, e o faz privar-se de prazer, para sobreviver ao desafio imposto.
De forma análoga, hoje, ao passar à noite pela rua, de longe avistei um carrinho de milho-verde, com fumaça saindo do caldeirão. Aquela fumaça perfumada por espigas de milho. E assim, instintivamente, eu segurei o ar e tapei o nariz, para não sentir o cheiro e não ficar com vontade. Depois do ato, me assustei comigo mesma. O milho é bom, o cheiro ainda melhor, mas em um dia de semana, cheio de obrigações e chatices, racionalmente eu tapei meu nariz para esse prazer. Ai... que tipo de monstro eu estou virando???

18 de junho de 2007

Segunda-feira é um dia estranho

Que eu canso rápido das coisas eu já sei. Que tudo o que eu já comecei a fazer na vida foi por esse motivo, também estou descobrindo. Que fazer uma mudança na vida exige coragem, é verdade. Mas para mim é também uma atitude de sobrevivência. E depois de tantas andanças e mudandas desesperadas aos poucos a vida melhorou, e foi ficando do jeito que eu queria. Mas quando você chega aonde quer, pode não fazer mais tanto sentido, e não exala mais o cheiro de perfeição que parecia ter, porque a satisfação acaba rápido, no mesmo tempo que começa a virar r-o-t-i-n-a. A rotina existe para ser destruída, sempre que possível, eu acho. A rotina mata aos poucos, mata inclusive a atividade cerebral, os estímulos de prazer, e torna a vida um tanto nublada.
Uma semana inteira no sertão foi uma semana cheia de novidades. Mas a viagem acabou e nós estamos todos aqui vivendo as mesmas vidas de antes da viagem. E eu, tão dura quanto antes. Se ao menos eu tivesse dinheiro, iria viajar mais, e assim viver mais e melhor.

14 de junho de 2007

Bouffant Hairstyle

Eu gosto bastante do tempo em que vivemos, apesar de todas as contradições e confusões e perda de identidade por que estamos passando. Mas também sempre quis ter vivido nos anos 60. Imagine ver Os Beatles surgindo, ter como presidente dos EUA John Kennedy e a primeira dama Jackie, ao invés de George Bush e sua horrenda Laura Bush? O mundo era mais encantado, mas elegante, e o que eu mais queria era ter um cabelo “bouffant”, isto é, aquele estilo que as mulheres usavam na época. Acho demais o volume no topo da cabeça, a franja avantajada e as pontinhas viradas para fora. Não teria o menor problema em acordar cedo para aprontar o penteado, ouvindo a música That Boy... dos Beatles, que descobri outro dia e estou adorando.



11 de junho de 2007

É estranho estar de volta

Então lá fui eu para um trabalho de campo de 9 dias para o sertão mineiro.Com preguiça e dó de deixar minha casa, minha cama, meu computador e meus filmes recém downloadeados. Medo de me sentir muito só no sertão, e receio de deixar o conforto para entrar em um ônibus que me levaria a um mundo coletivo, grupal, comunitário, inclusive para dividir banheiros, quartos, etc e tal. Diferente de todos os outros trabalhos de campo que participei, dessa vez não conhecia BEM ninguém da turma. Turma híbrida composta por pessoas que nunca tinha visto antes, e que descobri serem das turmas de 2002, 2003, além de uma psicóloga e uns transferidos como eu. O pior que podia acontecer é ficar 9 dias sem conversar direito, perdida entre panelinhas.

Descobri que, quando eu preciso, sou simpática e amigável. E que quando você precisa, algumas pessoas são simpáticas e amigáveis com você. E assim eu fiz alguns amigos, quase não fiquei perdida, quase não me senti só. Me diverti, bebi, dancei quadrilha e tudo quanto é tipo de música tosca (menos funk que eu travo) no meio da rua em Andrequicé-MG, que foi o ponto máximo de união das panelinhas, já que estavam todos bebendo e dançando música brega. Acho que consegui conversar um pouco com cada um, menos com as pessoas que realmente não se abrem de jeito nenhum. Mas o que sei é que no fim foram amizades só para essa viagem, e que com o fim dela, também acabam-se as amizades, vapt-vupt. Na rodoviária, um tchau e um “a gente se vê”, mas que eu sei que não, cada um já no fim dos seus TGIs. Mas de qualquer forma, valeu a pena conhecê-los.

2 de junho de 2007

O Lixo e o luxo

Depois de uma boa noite de álcool e ainda em estado de maciez do álcool, arranco um papel qualquer na bolsa para pensar, escrever e refletir: “ há algo de bom (prazeroso) em se sentir um pouco má...” depois de mais um inusitado episódio em mais uma “hora feliz” no tosco estabelecimento denominado “Venha K(!)” com meus amigos do Seade.
Entrei no metrô ainda rindo sozinha, malignas gargalhadas por um ato que não cometi, mas testemunhei (e indiretamente participei ao quase cair da cadeira de rir), me sentia bem mas no fundo com um pouco de culpa. Mas quase nada comparado ao prazer de rir (gargalhar) sozinha.
A dois metros e meio de mim, uma mulher com trajes esportivos, cabelos longos e presos em rabo, e um rosto que imagino ser sereno em outras ocasiões, chora compulsivamente, segurando a boca com a mão. Ela alterna a mão na boca na tentativa de prender o choro,e nas bochechas para enxugar as lágrimas que não param de escorrer. No momento em que enxuga as lágrimas, fecha a boca com força para não desabar, e olha melancólica o horizonte limitado das paredes do trem. O semblante pesado e preocupado.
Tento não me afetar pela cena triste, e me lembrar dos momentos ainda frescos na memória, da noite breve, pictória, e histérica que acabo de ter.
Cenas de clipe lado B que não me saem da memória, e penso, como ninguém teve a idéia de tirar uma foto, ou gravar ? Cenas de raiva impulsiva e inesperada, cenas cômicas, dignas, incríveis. Cenas que só o Venha K e o pessoal do meu ex-estágio no Seade poderiam me proporcionar.
Não consigo prender a risada (ou melhor, a gargalhada). E meu lado consciente (apenas 10%) agradece por não estar ‘daquele’ lado.
Mudando de assunto, vou me embora para o sertão, e volto daqui a 10 dias.
Até a volta...